Chegar ao Restaurante Cabral é, por si só, uma aventura. O Cabral Parador 19 fica numa margem da Lagoa da Conceição, um vasto lençol de água doce que domina o centro-oeste da ilha, rodeada de manguezais e floresta atlântica. O acesso, em “estrada de chão”, como chamam os brasileiros às estradas de terra batida, desemboca no Trapiche do Rio Vermelho, um pequeno cais de barcos de pesca, de onde embarcamos para uma travessia até à Costa da Lagoa. Do outro lado, perfeitamente enquadrado na paisagem, de onde se destacam, unicamente, um pequeno cais e um caramanchão sobre a água, surge o Cabral.
Sobre um manto de relva de verde, algumas espreguiçadeiras em madeira convidam a um aperitivo. Uma caipirinha de butiá e siri frio, que, como nos explica Clóvis, genro dos fundadores, à frente do restaurante já lá vão 16 anos, só é servido quando acaba de chegar. O siri é um pequeno caranguejo que é catado nos manguezais que circundam a lagoa. “Eu só sirvo esse prato quando o siri é tirado de manhã bem cedo. Aí é só adicionar sal, azeite de oliva e limão e vem para a mesa.”
Já sentados a uma das muitas mesas de uma esplanada com vista soberba sobre a água, provamos as ostras ao natural e os filetes de carapeba, um peixe nativo da lagoa. “Todos os peixes são pescados aqui. A carapeba, a tilápia, a lulinha, o linguado. Só usamos produtos endógenos.” Da cozinha, onde Inês, mulher de Clóvis, domina, chega uma moqueca irrepreensível. Entretanto, os sogros de Clóvis, fundadores do espaço explicam o segredo de um sucesso que já dura há 30 anos: “Tentamos fazer o melhor, com amor e acho que a gente tem conseguido. Quando tu aplica carinho em cima do que está fazendo, resulta né? O importante é estar apaixonado pelo que se faz. Essa é a essência desse negócio”